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Por que a Maré, por que as bolsas, por que a educação

Era o início dos anos 2000 quanto tive a primeira notícia do Curso Pré-Vestibular Comunitário da Maré. Ao lado dos pesquisadores André Urani e Ricardo Henriques, estive na sede do antigo Ceasm para um debate com os estudantes. O tema não podia ser mais atual: desigualdade racial, desigualdade econômica, desigualdade de gênero e o falso problema “o que vem primeiro?”. A pergunta era parte da pauta da discussão sobre o acesso à universidade, a política de cotas e o que hoje a gente já chama de racismo estrutural, e continha o problema da interseccionalidade entre gênero, raça, classe e muitos outros marcadores de opressão e violência.


Mais ou menos na mesma época, lendo e ouvindo a socióloga Lícia Valladares, me chamou a atenção a atualização do seu clássico “A invenção da favela”, em que ela narra a história dos discursos sobre as favelas cariocas desde as primeiras ocupações no Morro da Providência. Para a edição francesa do livro, Lícia estava incluindo um capítulo final sobre os novos movimentos de favela e chamando a atenção para o fato de que os futuros/as universitários/as buscavam não apenas maior escolaridade, mas também ou principalmente reivindicavam se tornar sujeitos de suas próprias narrativas, deixando para trás um longo e histórico processo de serem apenas objetos de pesquisas em diversos campos: organizações religiosas, instituições estatais, organizações internacionais e, mais recentemente, acadêmicos que, como a própria Lícia, haviam feito suas pesquisas de campo nas favelas cariocas e disputavam narrativas em torno da pergunta: “o que é a favela?”.

Esta resposta nunca foi simples, mas hoje é possível que pesquisadores/as da favela possam disputar a narrativa sobre si mesmos/as, deixando o lugar de mero objeto de pesquisa para ocupar o lugar de sujeitos de seus discursos.

Estão aí algumas das razões para que o projeto Solidariedade em cursos tenha escolhido fazer sua primeira parceria com o projeto Redes da Maré – de ambos os lados desse acordo estão pessoas que apostam na educação pública como caminho de transformação social, de enfrentamento da desigualdade racial, da desigualdade de gênero e da pobreza.

É com imenso orgulho que anunciamos que, das 28 bolsas de estudo recebidas, 11 foram direcionadas a universitários/as indicados pela Redes da Maré, 8 foram direcionadas pelos próprios doadores, 2 foram direcionadas pelo projeto Solidariedade em cursos para pessoas trans e 7 foram direcionadas a universitários do Instituto Marielle Franco, com quem nos orgulhamos de estar inaugurando uma parceria nesta segunda etapa do projeto. Foi a Maré que nos deu a vereadora Marielle Franco, ela também universitária na PUC-Rio e na UFF. Foi a violência institucional que tanto combatemos que nos tirou Marielle Franco, é contra esta violência que estamos trabalhando.


Agradecemos a todos/as que contribuíram com esta iniciativa e reafirmamos nosso compromisso com a educação, aqui entendida como instrumento de intervenção e transformação política. Solidariedade em cursos é uma proposta de ocupação do espaço público por quem está na universidade, pesquisando, pensando, contribuindo, a partir das Ciências Humanas, com o necessário debate sobre nossas desigualdades. Por isso, buscamos paridade de gênero, raça e sexualidade e temos um corpo docente formado por pesquisadores de mestrado, doutorado, pós-doutorado e por recém-doutores, pessoas ligadas ao Laboratório Filosofias do Tempo do Agora por um desejo coletivo de mudança.


As doações para bolsas de estudos ainda estão disponíveis aqui: www.tempodoagora.org/bolsa


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