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Lançamento do livro Trauma/ arte contemporânea brasileira(Editora Circuito, 2020)


"Quando cai, dizem os geólogos, um cristal se espatifa de acordo com suas estrias internas, de acordo com sua estrutura. Não seria um rompimento aleatório, mas seguiria um ordenamento presente em potência desde sua origem, em seu corpo mineral, em sua singularidade, digamos assim; ou justamente aquilo que faz dele uma pedra única entre outros milhões de minérios. Assim são as pessoas, pensando nas arqueologias freudianas: elas se arrebentam segundo sua estrutura patológica, e esse arrebentar-se seria o pleno florescimento do sintoma, a revelação de uma verdade somente a duras penas alcançada, uma verdade até então controlada e evitada, de uma singularidade que é marca mais profunda de cada um; e a cada um escapa e surpreende. Questão clínica das mais importantes, o que fazer depois da queda consumada, agora incontornável? Como reconstruir-se após um surto, um trauma renovado, uma passagem ao ato? O que fazer com um corpo (uma imagem de corpo ou de mundo) estourado, com as entranhas expostas? Um (outro) sujeito (um pós-sujeito?) precisa de novo (ou enfim) ser constituído, ou costurado, deslocar-se talvez de um lugar de gozo mortífero para outro ponto de partida, para ele mais salutar e possível. Reinventar-se. Civilizações também tombam, e de suas ruínas se apreende as linhas determinantes de seus destinos (enquanto algo se mantém opaco, se ilumina apenas como fatalidade). A cultura cristã ocidental, na qual o Brasil se insere com alguma dificuldade, vive um processo de anomia que se agrava há décadas, e a este processo histórico denominamos 'contemporâneo'. […] "

Esse é o início das reflexões que Renato Rezende e Juliana de Moraes Monteiro, pesquisadora do Laboratório Filosofias do Tempo do Agora (Lafita/FAPERJ) e pós-doutoranda na UFRJ sob a supervisão de Carla Rodrigues, se propõem a fazer em Trauma/arte contemporânea brasileira, livro que chega nas livrarias agora em dezembro. Transitando na fronteira entre filosofia, psicanálise e crítica de arte, o livro é um desdobramento de uma investigação que começou há anos atrás, financiada por edital da Faperj. Integrada pelo núcleo de pesquisadores composto por Renato Rezende, Roberto Corrêa dos Santos e Cláudio Oliveira, um dos coordenadores do Lafita, a pesquisa culminou no documentário "Filme de artista", filme que trazia como uma das preocupações estéticas e filosóficas interrogar sobre o estatuto do objeto na arte contemporânea a partir da obra de cinco artistas: Laura Lima, Nelson Felix, Virginia de Medeiros, Grupo Empreza e Ricardo Basbaum.

Como em qualquer pesquisa, texto ou obra resta sempre um impensado, uma certa pendência do pensamento, Renato e Juliana chamaram atenção para o fato de que a palavra "trauma" aparecia repetidamente nas falas dos artistas, o que acabou sendo desenvolvido e ampliado nos ensaios que compõem Trauma.

O objetivo não é oferecer nenhum diagnóstico fechado sobre a recente produção da arte brasileira, mas, certamente, se deixar debruçar sobre as obras, pensar com elas, com seus limites e suas chaves de abertura. Com a certeza de que essa instigante produção tornou o Brasil um lugar privilegiado para pensar o tema: o passado não elaborado, a insistência em um projeto de esquecimento e apagamento da memória, o trauma do colonialismo e do escravagismo, a violência sistêmica contra mulheres e contra a população LGBTQIA+, o regime ditatorial-militar, para citar alguns pontos que são abordados ao longo do livro.

A esses artistas já nomeados - e o livro conta com a publicação das entrevistas transcritas do documentário -, somaram-se textos sobre obras de Flavio de Carvalho, Nuno Ramos, Rosana Paulino, Lenora de Barros, Aline Motta, Cristina Salgado, Sara Ramo, Brigida Baltar, Ventura Profana, Cildo Meireles, Matheusa, entre outros.

Contamos ainda com um belo projeto gráfico do Augusto Erthal e um cuidadoso posfácio do Marcos Lacerda intitulado "Estátua de Glauco (ou sobre a ambivalência trágica da modernidade)".

Apresentamos, então, em livro, uma possível escrita para isso que não cessa de não se escrever e que a psicanálise nomeia de muitas formas: o real, o furo, o buraco da linguagem. Mas também o impossível, a ferida, o trauma. O que no campo da arte podemos chamar também de obras. Por conta da pandemia e do final do ano, não haverá lançamento por agora. O livro pode ser encontrado em diversas livrarias e no site da Editora Circuito.


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