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Essa é a língua do opressor, mas eu preciso dela para falar com você

Serão, portanto, os que desde sempre foram expropriados de um lugar estável e seguro que construirão uma nova aliança política contra os mecanismos normatizadores e reguladores incapazes de tolerar tudo aquilo que se apresenta fora da lógica do poder. Colonizados, exterminados e violentados, são esses sujeitos que poderão reinventar outras linguagens, são eles que, emanando do topos do resto, produzirão uma nova comunidade, não forjada por uma linguagem uniformizadora e dotada de um sentido único e irrevogável, mas, ao contrário, permeada por dissonâncias e disjunções que recusam identidades fixas e estáveis. Inventar, como na expressão de bell hooks, uma contralíngua: a invasão bárbara e criadora do estranho no familiar. Falar – ainda que por solavancos e hesitações – é a única possibilidade de elaborar o trauma do passado, reescrever a história dos vivos e dignificar a memória dos mortos. Esse gesto de apontar apenas o rastro da linguagem é crucial enquanto tarefa política: narrar, ouvir – a experiência possível que só confirma que, de fato, há linguagem. Ainda que falar seja prática atravessada por falhas e ruídos, que nada mais são do que os próprios elementos estruturantes da linguagem, por onde os significantes deslizam e o sentido e a significação resistem. Falar, como no poema de Rich, pela língua do opressor. Como escreve o filósofo italiano Giorgio Agamben ao final do seu livro A linguagem e a morte: ensaio sobre o lugar da negatividade, “como agora falas, isso é a ética”.

Link: http://revista.estudoshumeanos.com/wp-content/uploads/2020/04/v.7.n2.2019.7.104-118.pdf Imagem: Fernand Deligny, Wander Lines, Cuisine 02.


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